domingo, 6 de abril de 2008

Sobre a morte

Parei pra pensar, nem pela primeira e nem pela última vez, e me vi de cara com esta palavra. Assusta muita gente, desespera famílias, desespera pessoas, nos desespera. A morte é tratada de diferente formas em diferentes culturas; mas não é no âmbito do significado bruto da palavra que eu quero discorrer.
Quero falar da morte do Ser.
A gente morre várias vezes antes de morrer literalmente. E essas pequenas mortes, vão modelando, creio eu. Elas acontecem quando a gente menos espera, mas nos atingem de certa forma que passamos a ser menos... vivos. Essas mortes nascem de situações cotidianas, mas as vezes tomam conta do nosso ser de tal forma que pessoas viram zumbis, ou mortos-vivos, como queiram.
Começa lá na nossa infância: “tira a mão desse bolo, menino! Não faz isso porque é feio, faz aquilo porque é bonito”. Em vez de fazermos o que bem entender, a gente já começa a ser influenciado desde então. E - sem querer ser brusco demais - começamos a morrer. Uma criança não tem maldade, não tem malícia, mas já vão logo assassinando ela. E quem diria, são os próprios pais que começam este processo. Tragédia universal! Tragédia até natural, considerando que todos temos um prazo de validade. Mas não acho justo nós mesmos, em nosso juízo, diminuir este prazo, vivendo de ilusões, e dentro de um conformismo que não faz parte do natural do ser humano. A gente nasce, vai aprendendo, vai vivenciando várias novas experiências na vida, mas depois vamos nos curvando para as circunstâncias da vida. Não, não e não. Não façam isso! Eu sei que isso já foi dito, mais ou menos, um bilhão de vezes por aí. Mas o que me faz escrevê-lo é a experiência própria: aquela de acordar um dia e ver a imensidão que é a nossa vida, o mundo, os caminhos a se percorrer, e ter vontade de viver cada momento como se este fosse especial e merecedor de toda a nossa atenção.
Espero que todos vocês possam sentir este sentimento ao menos uma vez na vida.
E, pra concluir o raciocínio, espero também o dia em que o ser humano morra somente uma vez.

2 comentários:

Bruno César disse...

Começarei o comentário pela parte do "não pode" que você falou da infância. É o início de uma vida de repressões e limitações. Afinal, vivemos em uma civilização e (invoco agora nossa filósofa Déa) civilizar significa reprimir, domar, modelar de acordo com o conjunto de regras sociais. Um bom indivíduo é aquele bem reprimido, certinho, que respeita as leis, as regras sociais de boa educação e conduta, além das mais clássicas como não andar nu e não agredir ninguém, dentre outras, que finalmente acabam por cercear nossas expressões, sentimentos, idéias e instintos. É um preço, alto, a se pagar pela vida em sociedade, pelos minlênios de conhecimento da ciência e pelo trabalho em grupo. Abre-se mão de muita coisa, mas ganha-se muito também. Longe de estar a favor de toda a repressão social, só estou a mostrar que matam uma parte de nós em prol da vida em sociadade, do convívio da prisão do lado "o homem é o lobo do homem". Resta tentar driblar todos os outros "nãos" que a gente, aqueles que não estão na lei, nem são caso de vida ou morte literal. Tentar alcançar sonhos e realizar aquilo que passa pela nossa cabeça quando temos a oportunidade de parar e pensar sobre tudo, de viver de forma especial tudo aquilo como você bem colocou. É uma forma de aproveitar nossa liberdade dentro da gaiola de possibilidades, ou até mesmo, quem sabe, aumentá-la. A morte da repressão e da vida corrida, parecida com aquela que corre atrás das pessoas nas historinhas da turma da Mônica, fica ao nosso lado o tempo todo, nos matando aos poucos como o cigarro. Cabe a nós espantá-la, avisá-la para voltar apenas quando for fazer o trabalho completo, depois que a gente tiver maturidade e experiência bastantes para enjoar de tudo isso aqui.

Ritinha disse...

Bom acho que é sim uma verdade tudo que você disse. Mas quando você fala exclusivamente das nossas pequenas mortes, me soa como uma carcatrística tão forte, como se ela fosse sempre a vencedora, entende?. Pensar no fim realmente é algo que me assusta. Concordo com que devemos aproveitar cada mínimo da imensidão que é nossa vida - isso é recorrente na minha cabeça. Mas eu acredito que algumas das nossas pequenas mortes, como você citou, são muitas vezes a causa de alguns pequenos renascimentos. Talvez seu prórpio texto: ao perceber que algumas coisas te consumiam de forma negativa, você concluiu o valor da liberdade de aproveitar melhor a vida!